dbregasdramaband-rifferama

Música, teatro e humor: O universo da Dbregas Drama Band*

O Rifferama tem o apoio cultural de 30 Por Segundo, Habrok Music, Mini Kalzone e DOBERRO


Contribua com a campanha de financiamento coletivo do Rifferama no Catarse

*por Marcelo Mancha

Já começo levantando questões: Amigos trocando ideias em mesas e balcões dos bares da cidade? “Sei”. Por incontáveis fins de semana? “Hummmm… tinha que dar em coisa boa”. Entre muitas conversas e rodadas, esses encontros definiram a criação em 2008 da Dbregas Drama Band. A banda já nasceu com uma proposta alternativa, fazer um som diferente daquele que estava rolando nos palcos da Grande Florianópolis. A aposta foi na diversão, misturar música e teatro e como trilha sonora, um som que atualmente é conhecido como brega. Tudo temperado com muito humor e MPB, a “música popular de boteco”, segundo os próprios Dbregas.

Antes de seguir em frente, gostaria de deixar registrado (em minha defesa), nos arquivos do Rifferama, que é muito difícil definir o estilo musical brega. É uma mistura de muitas coisas e ritmos, que quando observados por ângulos diferentes, podem ser ou não, de breguice comprovada. Confuso, né? Eu sei. Brega é aquele som que todo mundo conhece, de refrão forte e contagiante, geralmente de outra época, executado e norteado pelos diferentes cantos e sotaques do país, de ontem, mas também de hoje. É coisa do povo, da raça mesmo. Até rola, mas é um pouco mais complicado ser brega na Universidade de Berkeley, por exemplo. No conservatório de Munique, compreende? Pode acontecer, mas será que não vai faltar aquela dose de Vitamina S? O brega tem emoções envolvidas. Por aqui, o assoalho pra remexer, é bem mais embaixo. Vale destacar um ponto: o que pode ser brega para uns, para outros pode ser o ápice da sofisticação.

A Dbregas tem todo um conceito presente. Para as apresentações os integrantes criaram personagens, pseudônimos, biografias e figurinos. No universo musical eles são conhecidos como Suzete Valdirene (vocal), Brigity Taylor (vocal), Carlinhos Montanha (bateria), Ademar Meyer Jr. (guitarra e backing vocal), Mister Meme (teclado), Don Panetone (baixo) e El Cabrón (trompete e backing vocal). Nos shows, a veia performática e a interação com o público viraram marcas da banda. A DbDB ganhou experiência nos palcos da região, tocando versões bem humoradas de breguices nacionais e internacionais, do pop, do rock, do samba, da música latina. No ano passado a banda começou a trabalhar em músicas autorais, o que culminou no lançamento do EP “O Bar é meu Divã” (2022). O material foi gravado e mixado por Duda Medeiros, durante a pandemia, no Butiá Estúdio, em Florianópolis.

O mini álbum tem cinco faixas e abre com “Vírus da paixão”, talvez a mais próxima do conceito de música brega contemporânea, com tecladão pegando fogo e tecnobregando pelos versos da música. Daquelas para dançar com a parceira ou com o parceiro no salão do barzinho, meia luz, mesas de plástico, vidro de ovo rosa no balcão, “Gudang avulso 5 reais” escrito na parede. Estilo puro. Dá pra sacar uma conexão com umas referências mais recentes como Gaby Amarantos e Gang do Eletro. Seria um carimbó manezinho? Não duvido. A faixa-título mantém a vibe nas alturas, mesmo num BPM mais lento. Tem solo de trompete, o que já diz muito sobre a canção. Na letra uma jornada pelo mundo das bebidas alcóolicas e por amizades boêmias, com citações em inglês e francês, que dão um toque especial ao momento. As letras de todo EP são muito boas, moldadas no bom humor e em uma fina ironia, escola Rossi, Wando, Seixas, Da Silva, Augusto. Essa tem que estar em todas as jukebox da América Latina.

Em “Batom Vermelho”, a vocalista Suzete Valdirene assume o microfone principal e manda um recado forte na letra sobre o empoderamento feminino. “Bota teu batom vermelho e vem pra roda dançar…Não precisa de homem nessa sua vida pra ser mais mulher”. Letra mais engajada do que 90% das que andam escrevendo por aí. Essa acelera novamente o sacolejo, com a levada ecoando o som do Norte do Brasil, vibrações do Pará com reverberações de uma noite no Iate Casablanca, se é que tu me entendes? 

“Amor Comprimido” vem na sequência e já foi eleita aqui em casa a melhor canção do EP. A letra é muito boa (“Eu queria talvez te querer, só um pouquinho menos, porque na verdade pra mim é um veneno, ser de você tão dependente assim”), credo, disse muito. O arranjo dessa música foi muito bem elaborado, com todos os instrumentos aparecendo no momento certo, no verso, na ponte, no refrão. Os caras capricharam aqui. A dobra de bateria do Carlinhos Montanha e o trompete de El Cabrón nessa música te levam para o fim dos anos 70, comecinho dos 80. Chepala véio queimando combustível, toca-fitas (gaveta) rodando aquela cassete que tinha no Lado A Roupa Nova e no Lado B Expresso Rural e Kleiton e Kledir. Localizou?

O trabalho termina com cores de Jovem Guarda com a música “Pé de Amor”. Me lembrou Vídeo Hits e Graforréia Xilarmônica, com Mister Meme incorporando o saudoso Lafayette nas teclas. O trabalho de guitarra numa levada ska e a linha de baixo desse som também merecem destaque. A música termina com jeito de última música. Acelera no fim, pra terminar de mansinho, apagando as luzes e fechando a porta do bar. Fazer música, misturar com essa parte da encenação, brincar com os personagens, com o público e ainda acrescentar humor, nos dias de hoje? Não é uma das tarefas mais fáceis. Como em todos os estilos, essa alquimia é uma arte. Total respect!

Foto: Michelangelo Valgas

*Marcelo Mancha é jornalista, músico e baixista do Eutha (desde 1992)

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

3 Comentários

  1. Acompanho a banda desde a sua criação. O diferencial é a mistura da música e a fantasia do teatro. Os personagens representam grande parte do povo brasileiro que faz de tudo um pouco para sobreviver em um país de oportunidades somente para alguns. Banda divertida, mas que nas entrelinhas diz muito desses nossos brasis. Amo. Vale a pena se divertir com a Dbregas. Beijossssss

  2. parabéns Dbregas,

  3. Valeu o espaço Daniel. Rifferama é bom demais e D'bregas Drama Band me conquistou hehe

DEIXE UM COMENTÁRIO.

Your email address will not be published. Required fields are marked *